Quando caminhamos por ruas bem pavimentadas, praças e estacionamentos organizados, raramente pensamos em quem, de fato, construiu esses caminhos. O que geralmente passa despercebido é a realidade de quem está por trás dessas obras: trabalhadores que, em muitas regiões do Brasil, enfrentam jornadas exaustivas, baixíssimos salários e condições de trabalho extremamente duras.
Uma reportagem da BBC News Brasil revelou um dado alarmante: entre 2020 e 2022, mais da metade dos resgates de trabalhadores em situação análoga à escravidão ocorreram na construção civil. Isso inclui, também, o segmento de pavimentação, onde os calceteiros — profissionais responsáveis por assentar blocos de concreto — são frequentemente vítimas de exploração, especialmente em regiões mais pobres e carentes de oportunidades.
O trabalho do calceteiro exige força física constante. A atividade envolve transportar blocos pesados, trabalhar horas a fio sob sol forte, em posições desconfortáveis, e repetir os mesmos movimentos dezenas ou centenas de vezes ao dia.
Com o passar dos anos, os impactos no corpo se acumulam. Problemas como hérnias de disco, desgaste nas articulações, dores crônicas nos joelhos e nos ombros são comuns entre esses trabalhadores. A falta de equipamentos adequados e a ausência de práticas de ergonomia apenas agravam esse cenário.
E tudo isso, muitas vezes, em troca de remunerações baixas, sem direitos trabalhistas básicos garantidos. Em locais mais vulneráveis, a necessidade de sobreviver leva muitos trabalhadores a aceitar qualquer tipo de oferta — um ciclo de precarização que parece difícil de quebrar.
Diante desse cenário, é importante desfazer um mito: a mecanização não elimina o trabalhador — ela resgata a dignidade do trabalho.
Com a introdução de máquinas no processo de pavimentação, o papel do calceteiro evolui. Em vez de se submeter a esforços físicos extremos, ele pode se tornar operador de equipamentos modernos, que são simples de dirigir e não exigem formação técnica avançada.
Essa mudança traz inúmeros benefícios:
O caminho para uma construção civil mais justa e humana passa, inevitavelmente, pela valorização de quem ergue nossos espaços urbanos. Não se trata de substituir pessoas, mas de oferecer condições para que elas cresçam, se desenvolvam e tenham uma vida mais digna.
Enquanto seguimos cruzando cidades pavimentadas, é fundamental lembrar: por trás de cada bloco assentado, existe uma história de trabalho que merece ser reconhecida — e transformada.
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